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  • Lui Fagundes

O SEGUNDO SUPER-RESERVA BICAMPEÃO DO MUNDO


PEPE, ponta-esquerda e multicampeão no grande Santos da década de 1960, foi o segundo (e são apenas dois: o outro é o goleiro italiano Masetti, das Copas de 34 e 38) Super-Reserva a se tornar bicampeão do mundo sem ter jogado em nenhuma das duas Copas (Suécia/58 e Chile/62) para as quais foi convocado pelos técnicos Vicente Feola e Aymoré Moreira. Mas, ao contrário de Masetti, que conseguiu a façanha de ser campeão do mundo sem ter jogado nenhuma partida pela Azzurra anteriormente, Pepe já havia estreado dois anos antes da Copa de 58, marcado gols e sido campeão da Taça do Atlântico (Brasil, Argentina e Uruguai) e da Copa Roca (disputa contra a Argentina).

JOSÉ MACIA "FILHO"

Com nome igual ao do pai (José Macia) por um lapso do escrivão (seu nome seria José Macia Filho), Pepe nasceu em 25 de fevereiro de 1935, na cidade de Santos. Seu pai, mais conhecido como “Espanhol”, e sua mãe, Clotilde, imigrantes espanhóis, chegaram em Santos no início da década de 1930 e se conheceram já em solo brasileiro.


DA VÁRZEA PARA O SANTOS

Pepe, desde criança, só queria correr atrás de uma bola e começou a jogar nos infantis do Mota Lima, clube do futebol varzeano de São Vicente, passando depois para os juvenis do Comercial. Mais tarde jogou também no Continental (formado pela fusão entre Comercial e Vila Melo). Em 1951 foi fazer testes nos juvenis do Santos; aprovado, não saiu mais do Peixe (apesar de continuar jogando na várzea de São Vicente no período em que ainda era amador no clube praiano). No início, seu pai, o velho José, não queria que o filho se tornasse jogador de futebol porque a carreira, na época, era associada à boemia, e os jogadores eram vistos como vagabundos; mas com o tempo deu a mão à palmatória: o filho jogava muito e era um sujeito regrado.


O PRIMEIRO JOGO E O PRIMEIRO GOL

A estreia de Pepe na equipe principal dos Santos foi no Pacaembu, na derrota de 2x1 para o Fluminense, pelo Torneio Rio-São Paulo, em 23 de maio de 1954. Pepe entrou no lugar de Boca, que por sua vez já havia substituído a Del Vecchio e o técnico que o pinçou dos juniores e lhe deu a primeira oportunidade no time de cima foi o italiano Giuseppe Ottina (dirigiu o Santos por menos de quatro meses, entre fevereiro e junho, e caiu após derrotas nas quatro primeiras rodadas do Rio-São Paulo. No seu lugar assumiu Luis Alonso Perez, o Lula, maior técnico da história do Peixe e treinador de Pepe nos juniores, mas que só lhe deu chance nos profissionais em 1955).


Uma semana depois da estreia, Pepe foi titular na partida amistosa contra o Guarani de Campinas, na Vila Belmiro, ainda sob o comando de Ottina. O jogo terminou empatado em 0x0 e Pepe retornou aos juniores. Seu próximo jogo no time principal do Peixe aconteceu quase um ano depois, em março de 1955, na derrota de 4x2, em amistoso contra o Juventus, na Rua Javari – agora sob o comando de Lula. Foi neste jogo que Pepe marcou seu primeiro gol com a camisa do Santos.


GOL DO TÍTULO PAULISTA

Na sua primeira temporada no time profissional do Santos fez o gol do título que acabou com o jejum de 20 anos do Peixe no campeonato paulista. Na última rodada, contra o Taubaté, na Vila Belmiro, já em 15 de janeiro de 1956 (o paulistão começava apenas no segundo semestre), Pepe marcou aos 20’ do 2º tempo, o gol que decretou a vitória santista por 2x1, e o título, que não vinha desde 1935. Pepe jogou 13 dos 26 jogos (Lula fazia um rodízio entre ele e Tite, o outro ponta-esquerda do time) e marcou dez gols.


A ESTREIA NA SELEÇÃO

No início de julho de 1956, Pepe foi convocado para defender a seleção brasileira pela primeira vez. O Brasil jogaria seu segundo jogo pela Taça do Atlântico, em Buenos Aires, no dia 8 de julho, contra a Argentina (Brasil 2x0 Uruguai e Uruguai 1x2 Argentina, eram os resultados anteriores do torneio), no “Cilindro”, estádio do Racing. Pepe ficou no banco, mas substituiu o ponta-esquerda Ferreira (do América/RJ). O jogo acabou empatado por 0x0 e ninguém levou a taça. Um jogo desempate deveria ser marcado numa reunião entre as federações dos dois países em agosto, mas a tal reunião não aconteceu e o desempate também não. Um mês depois Pepe faria seu primeiro (e também o segundo) gol na seleção. Ele foi titular nos dois amistosos contra a Tchecoslováquia (derrota de 1x0 no Maracanã e vitória de goleada por 4x1 no Pacaembu).


O PRIMEIRO JOGO COM PELÉ

Pepe já tinha sido campeão paulista um ano antes, quando o ex-jogador e olheiro Waldemar de Britto trouxe do Bauru Atlético Clube, em agosto de 1956, um garoto de 15 anos, que ainda não se chamava Pelé. Um mês depois, no dia 7 de setembro, o garoto vestia pela primeira vez a camisa dos profissionais do Santos, na cidade de Santo André, contra o Corinthians local (que atualmente disputa apenas campeonatos amadores), num amistoso comemorativo ao Dia da Independência. O resultado: 7x1 para o Peixe. Pelé entrou no 2º tempo no lugar de Del Vecchio, quando o jogo já estava 5x0 e deixou a sua marca fazendo o sexto gol do jogo.


No dia da estreia de Pelé, Pepe não entrou em campo. E Pelé não participou de nenhum jogo válido pelo campeonato paulista de 1956. Neste ano, ele jogou somente mais um jogo amistoso, no dia 15 de novembro (curiosamente, os dois primeiros jogos de Pelé com a camisa santista foram nas datas da independência e da proclamação da república do país), na Vila Belmiro contra o Jabaquara. Este amistoso marcou a primeira vez da dupla Pepe e Pelé em campo. O Santos venceu por 4x2, com gols de Alfredinho, Del Vecchio, Pelé e Zezinho. Em jogos oficiais, a dupla atuou junta pela primeira vez somente no dia 1º de maio do ano seguinte, no empate por 1x1 com o Corinthians, válido pelo Torneio Rio-São Paulo. Pepe foi titular (anotou o gol santista) e Pelé entrou no decorrer do jogo no lugar de Pagão.


Por incrível que pareça, o primeiro jogo oficial onde Pepe e Pelé foram titulares juntos não foi pelo Santos, e sim pela seleção canarinho. Foi no dia 10 de julho de 1957, contra a Argentina, valendo pela Copa Roca. Brasil 2x0 – com gols de Mazzola e Pelé (outra curiosidade: na sua estreia pelo Santos, Pelé entrou no lugar de Del Vecchio; e na sua estreia pela seleção, ele substituiu, novamente, a Del Vecchio). Entre o jogo com o Corinthians (1º de maio) e a partida contra a Argentina (10 de julho), se passaram exatos 70 dias. Neste período, o Peixe jogou sete vezes pelo Rio-São Paulo e duas vezes pelo Paulistão. Em nenhum destes nove jogos oficiais, Pepe e Pelé entraram em campo desde o início, como titulares. Isso aconteceu pela primeira vez em jogos oficiais pelo Santos somente no dia 25 de julho, na goleada de 7x2 sobre a Ponte Preta, em jogo válido pela 6ª rodada do Paulistão (Pepe marcou um e Pelé fez três).


PEPE COM A CAMISA DO VASCO?

Em junho e julho de 1957, visando arrecadar fundos para a construção do Morumbi, que seria inaugurado em 1960, o São Paulo promoveu um torneio internacional com o nome do futuro estádio. Foram convidados Flamengo, Dínamo Zagreb, Belenenses e Vasco (grupo A – que jogaria no Maracanã), e Corinthians, Lazio e Sevilla, além do próprio São Paulo (grupo B – que jogaria no Pacaembu). Os dois melhores de cada grupo jogariam um quadrangular final. Acontece que o time principal do Vasco estava excursionando pela Europa e criou-se uma espécie de Combinado “Vasco/Santos”, com a “mistura” de alguns jogadores do Santos (Pepe, Pelé, Jair Rosa Pinto, Álvaro, Ivan, Urubatão e Brauner) aos poucos jogadores do Vasco que tinham permanecido no Brasil.


Em três jogos jogos no Rio de Janeiro (6x1 no Belenenses, 1x1 com o Dínamo, e 1x1 com o Flamengo), o “Combinado V/S” usou a camisa do Vasco. Em um quarto jogo, no Pacaembu, entrou em campo contra o São Paulo com a camisa do Santos, no empate por 1x1. Mas o torneio acabou por aí, porque os torcedores “não compraram o produto” são-paulino e o lucro projetado estava se transformando num grande prejuízo. O Torneio Internacional do Morumbi ficou sem vencedor. Restou a curiosidade de ver Pepe (que não marcou nenhum gol na competição) e Pelé vestindo a camisa do Gigante da Colina. Seis dias depois do jogo contra o São Paulo, em 7 de julho, Pelé (que fizera seis dos nove gols do Combinado) fazia sua estreia na seleção brasileira na derrota para a Argentina (2x1), válida pela Copa Roca, no Maracanã, e já marcava seu primeiro gol com a amarelinha.


Onze anos depois, em janeiro de 1968, Pepe vestiu outra camisa: a do Atlético Paranaense, mas somente para um amistoso contra a seleção da Romênia. Zito (que à época já estava aposentado), Djalma Santos, Bellini e Dorval também participaram deste jogo, que terminou com um empate em 1x1. Os três últimos foram contratados pelo Furacão, e Bellini e Djalma Santos encerraram suas carreiras no clube do Paraná em 1969 e 1972, respectivamente.


1958 – CAMPEÃO NA SUÉCIA SEM JOGAR

Ano de Copa do Mundo, a seleção com técnico novo, Vicente Feola (que era funcionário do São Paulo desde 1937, onde exercera até mesmo cargos administrativos, além de várias vezes o comando técnico), escolhido em fevereiro para comandar o Brasil. A escolha estava longe de ser unanimidade. Basta lembrar que Feola havia sido auxiliar do técnico Flávio Costa na Copa de 50 (seu nome também estava ligado ao Maracanazo). Mas pela primeira vez na história a CBD (Confederação Brasileira de Desportos – na época) se preparava com antecedência – e adequadamente – para uma Copa do Mundo.


Feola convocou 33 jogadores que passariam por um período de 40 dias de preparação nas cidades mineiras de Poços de Caldas e Araxá. Um jogador de cada posição teria de ser cortado para a lista final dos convocados à Copa da Suécia. Disputando duas vagas para a ponta-esquerda estavam Pepe, Zagallo (Botafogo) e Canhoteiro (São Paulo). Pepe e Canhoteiro eram dribladores que iam para cima da defesa e finalizadores. Marcavam muitos gols. Teoricamente eram os favoritos para a posição. Mas Zagallo corria por fora: um jogador mais tático, poderia jogar auxiliando a marcação no meio de campo.


Um levantamento completo da saúde de todos os convocados deixou bastante a desejar e muitos deles tiveram de, até mesmo, extrair dentes que não estavam lá grande coisa. Foi o caso de Pepe, que por isso perdeu alguns dias de treinamento e os primeiros jogos preparatórios à Copa, contra o Paraguai (goleada de 5x1 – Zagallo jogou e marcou um gol – e empate por 0x0, quando Canhoteiro entrou no lugar de Zagallo durante a partida), também válidos pela Taça Oswaldo Cruz, e Bulgária (vitória de 4x0, com Zagallo em campo). Pepe voltou durante jogo seguinte, entrando no lugar de Canhoteiro, e marcando gol na vitória de 3x1, também sobre a Bulgária.


Haveria somente mais um jogo no Brasil, contra o Corinthians, antes da viagem para a Europa, com os 22 jogadores convocados. O jogo foi no Pacaembu, Pepe foi titular e marcou dois gols na goleada sobre o Coringão. Com isso a sorte de Canhoteiro foi selada: ele não iria para a Suécia. Neste jogo, Pelé saiu de campo de maca depois de uma violenta entrada do lateral Ari Clemente, e por pouco, a nova estrela que surgia também não foi à Copa. Antes de aterrissar em terras nórdicas a seleção faria mais dois amistosos, na Itália, contra Fiorentina e Inter de Milão. Pepe entrou como titular nas duas vitórias pelo mesmo placar (4x0), e marcou um gol contra a Fiorentina. Tudo parecia indicar que Feola já tinha escolhido seu titular à camisa 11 e que Zagallo seria apenas uma opção tática. Mas aí o destino resolver “meter a mão” nos planos de Feola. No segundo jogo, o meia Mauro Bicicli, que jogava pela ala direita da Inter, acertou Pepe, deslealmente por trás, no tornozelo direito, quando o placar marcava 2x0 Brasil. Pepe deu lugar a Zagallo e chegou à Suécia calçando chinelos, tal o inchaço de seu tornozelo. Os tratamentos médicos indicados para um problema como esse eram restritos na época: calor (basicamente toalha e água quentes) e gelo.


O médico Hilton Gosling fez o que pôde, com os recursos escassos que tinha à disposição, para recuperar Pepe. E ele recuperou-se a tempo de jogar a semifinal contra a França, mas aí a máquina canarinho já estava azeitada com a “peça” Zagallo totalmente adaptada à área (meio e ponta) esquerda do campo. Seria uma temeridade Feola mexer em algo que estava dando tão certo para promover a volta de Pepe depois de uma lesão. O “Canhão da Vila” teve de contentar-se em assistir o Brasil conquistar seu primeiro título mundial das arquibancadas, porque como ainda não havia a regra de substituição em Copas, o “banco de reservas” também não existia – era mais um “banco de comissão técnica”. A melhor recordação de Pepe da Copa de 58 é a volta olímpica no Estádio Rasunda (demolido em 2012), depois dos 5x2 sobre os donos da casa.

O PRIMEIRO RIO-SÃO PAULO NINGUÉM ESQUECE

1959 marcou a primeira conquista do Santos (e de Pepe) em um Torneio Rio-São Paulo. Dez clubes (cinco de cada estado) jogaram entre si em turno único. Na última rodada, enfrentaram-se Santos e Vasco, no Pacaembu. O Vasco em busca do bicampeonato chegou para o jogo com 12 pontos ganhos (um a mais que o Santos) e com uma defesa que tomara apenas três gols em oito jogos. Aproximadamente 21 mil espectadores viram Coutinho marcar duas vezes e Pelé decretar o placar final de 3x0. A defesa menos vazada não resistiu ao ataque santista. Pepe marcou três vezes no torneio: o gol da vitória (3x2) sobre o Flamengo, no penúltimo minuto de jogo; o 2º na virada contra o Corinthians (3x1); e o 3º na derrota por 4x3 para o América.

Pepe ajudou o Santos a ganhar mais três vezes o torneio Rio-São Paulo. Nos anos de 1963 (o Corinthians ficou com o vice-campeonato pela diferença de apenas um ponto), 1964 (Santos e Botafogo terminaram empatados com 14 pontos. A disputa de desempate entre os dois clubes, em uma série de melhor de três jogos, chegou a ser acordada entre as federações paulista e carioca de futebol, mas por falta de datas apenas o primeiro jogo foi disputado, com vitória do Fogão por 3x2, e as duas equipes foram declaradas campeãs) e 1966 (quatro equipes terminaram esta edição empatadas com 11 pontos. Como antes da última rodada já havia a possibilidade de um empate múltiplo e não haveriam datas para jogos de desempate porque, em seguida, a CBF faria a convocação dos atletas para a Copa de 66, as duas federações decidiram que os clubes que chegassem empatados ao final da competição seriam declarados campeões. Assim foi: Santos, Botafogo, Vasco e Corinthians foram os campeões do Rio-São Paulo/66).


O MELHOR ATAQUE DO MUNDO

Pepe fez parte do “melhor ataque do mundo”. A linha de ataque santista da década de 1960, formada por Mengálvio, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe marcou 757 gols entre os anos de 1960 e 1963. E nestes quatro anos ganhou duas Libertadores, dois Mundiais de Clubes, três Taças do Brasil, um Rio-São Paulo e três Paulistões.


Em 1959 Mengálvio ainda não havia chegado ao Santos, mas o ataque já era destruidor. Em junho daquele ano os jogadores e torcedores da Inter de Milão e do Barcelona constataram isso. A Inter levou 7x1 do Peixe no Torneio de Valencia. Com quatro gols de Pelé, dois de Pepe e um de Coutinho (Angelillo descontou), o time de Milão não viu quem (ou o quê) o atropelou. O Santos foi campeão do torneio com o mesmo placar que hoje em dia nos traz uma “lembrancinha” amarga (Ah! 7x1…). Três dias mais tarde, em um amistoso no Camp Nou, o Peixe ignorou o Barcelona (campeão espanhol da temporada 1958/59), que contava com os húngaros Kocsis e Czibor (da grande Hungria da Copa de 54) e aplicou, sem piedade, 5x1. Pelé (2), Dorval (2) e Coutinho marcaram para o esquadrão santista. O brasileiro Evaristo de Macedo assinalou o tento de honra do Barcelona.


Mengálvio chegou do Aimoré, de São Leopoldo/RS, em 1960 e até o início de 1964, quando Dorval foi negociado com o Racing da Argentina, o “ataque dos piores pesadelos dos adversários” triturou todas as defesas que apareceram à sua frente. Dorval retornou ao Santos em 1965, mas aí novos atores entravam em cena: Pepe perdia espaço para Abel e Toninho Guerreiro já era um dos novos goleadores.


Os números totais dos integrantes do melhor ataque do mundo em suas passagens pelo Peixe:

  • Pelé – 1.091 gols em 1.116 jogos

  • Pepe – 405 gols em 750 jogos

  • Coutinho – 370 gols em 457 jogos

  • Dorval – 198 gols em 612 jogos

  • Mengálvio – 28 gols em 369 jogos


BICAMPEÃO PELA SELEÇÃO PAULISTA

Pepe também jogou pela seleção paulista no extinto Campeonato Brasileiro de Seleções. Foi campeão duas vezes: em 1956 (quando revezou a ponta-esquerda com Tite, seu companheiro no Santos) e em 1959, quando foi titular e artilheiro do torneio com dez gols. Nas duas oportunidades sob o comando de Aymoré Moreira.


PENTACAMPEÃO BRASILEIRO

Naquele tempo ainda não existia o título de campeão brasileiro (posteriormente, em 2010, a CBF equiparou os títulos da Taça Brasil – disputada entre 1959 e 1968 e Robertão ou Taça de Prata, jogada entre 1967 e 1970 aos títulos do Campeonato Brasileiro, em disputa a partir de 1971, o que deu o título de pentacampeão brasileiro ao Santos, entre 1961 e 1965). A primeira competição nacional, a Taça Brasil, que reunia campeões estaduais do país (em rodadas preliminares) e os campeões carioca e paulista (que entravam direto nas semifinais) fora disputada pela primeira vez em 1959 e teve o Bahia como campeão, batendo o Santos depois de três jogos finais. Um ano depois o Palmeiras levou o caneco. E depois só deu Peixe. Foram cinco títulos seguidos, entre 1961 e 1965. O Santos entrou sempre nas semifinais, menos em 1964, quando jogou a partir das quartas de final. Em 1961 e 1963, o Santos decidiu novamente contra o Bahia (1x1 e 5x1 na primeira decisão – Pepe não marcou nas finais, mas marcou quatro gols nas semifinais contra o América/RJ; e 6x0 e 2x0 na segunda. Pepe marcou duas vezes na goleada no Pacaembu).


As outras três decisões foram contra clubes cariocas. Em 1962, a final foi contra o grande Botafogo, de Nilton Santos, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Uma final em melhor de três jogos: vitória por 4x3 no Pacaembu (Pepe marcou duas vezes), derrota de 3x1 no Maracanã, e goleada por 5x0, também no Maracanã, naquele que foi denominado de “o maior jogo do mundo” pelo jornalista Ney Bianchi, em matéria para revista Fatos & Fotos (o “Canhão” mais uma vez deixou sua marca). O Flamengo foi o adversário nas finais do tetracampeonato, em 1964. Goleada de 4x1 em São Paulo e empate por 0x0 no Rio de Janeiro. Pepe não marcou nas finais, mas anotou dois gols contra o Atlético/MG nas quartas de final e mais três contra o Palmeiras nas semifinais. No pentacampeonato, a última vítima foi o Vasco. O Santos aplicou 5x1 no Pacaembu e venceu novamente, por 1x0, no Maracanã. Esta foi a única edição dos cinco títulos brasileiros seguidos em que Pepe não marcou gols. Em sete edições (e sete finais) da Taça Brasil (cinco títulos e dois vice-campeonatos), Pepe marcou 12 gols.


A PRIMEIRA CONQUISTA DA AMÉRICA

A primeira participação do Santos na Copa Libertadores da América aconteceu em 1962. O Santos fora campeão da Taça Brasil (torneio criado em 1959 para indicar o representante brasileiro na competição continental) no ano anterior. O hoje inflacionado torneio sul-americano (até com fases preliminares) contou naquela edição com apenas dez participantes: o atual campeão Peñarol (que também era pentacampeão uruguaio e com isso abriu uma vaga para o vice do ano anterior, seu maior rival, o Nacional) e os campeões nacionais dos demais países da região (menos a Venezuela – o primeiro clube venezuelano que participou da Libertadores foi o Deportivo Itália, na edição de 1964).


No sorteio dos grupos classificatórios coube ao Peixe enfrentar o Cerro Porteño (Paraguai) e o Deportivo Municipal (Bolívia). Foi fácil. O Santos venceu duas vezes os bolivianos (4x3 e 6x1), empatou com o Cerro por 1x1 no Defensores del Chaco, e enfiou 9x1 nos paraguaios na Vila Belmiro. Pepe anotou quatro gols nesta fase, mas não marcou nas fases seguintes. As semifinais só foram disputadas depois da Copa do Chile e o Santos (sem Pelé, ainda se recuperando da contusão que abreviara sua participação na Copa) pegou a chilena Universidad Católica. Foram dois jogos difíceis: 1x1 em Santiago e 1x0 na Vila. O adversário da final não poderia ser pior - o Peñarol vencera as duas primeiras edições da Libertadores, e um ano antes o título de bicampeão veio com uma vitória e um empate contra o Palmeiras.


Mas desta vez seria diferente. No primeiro jogo, no Centenário, palco da final e de vários outros jogos da Copa de 30, o Santos venceu a equipe uruguaia por 2x1, de virada, com dois gols de Coutinho (com seis tentos ele dividiu a artilharia do torneio com dois equatorianos: Spencer, do Peñarol, e Raymondi, do Emelec). Bastava um empate para o Santos no jogo de volta na Vila Belmiro, mas os santistas foram surpreendidos pelos aurinegros e – mais ainda – pelo árbitro chileno Carlos Robles, que “encerrou oficialmente” a partida quando o Peñarol vencia por 3x2 (alegando depois na súmula que foi ameaçado e agredido durante as várias confusões e interrupções do jogo e, ainda, a possibilidade iminente de invasão do campo), mas pressionado por dirigentes santistas e da Conmebol, deixou o jogo prosseguir, numa espécie de “faz de conta futebolístico”, porque temia pela própria vida se encerrasse efetivamente a partida.


O problema é que Pagão (o substituto de Pelé) empatou o “jogo de fantasia” de Robles. O Santos achou (e vários jornais matutinos que noticiaram o título no dia seguinte também) que era campeão com o 3x3, e recebeu uma ducha de água gelada no dia seguinte, após o árbitro chileno entregar a súmula do jogo à federação sul-americana. Não havia outra saída a não ser a marcação de um jogo extra, em campo neutro. O Santos relutou, mas se não topasse estaria dando adeus ao título. Conseguiu postergar a realização do jogo para quase um mês depois (de olho na recuperação de Pelé) e exigiu uma arbitragem europeia (Leopold Horn veio da Holanda para soprar o apito). Em 30 de agosto, uma quinta-feira, no Monumental de Núñez, estádio do River Plate, em Buenos Aires, já com Pelé (e com dois gols dele, mais um contra do meia Omar Caetano – Pelé e Caetano jogaram juntos depois, em 1975, no NY Cosmos), o Santos fulminou o atual bicampeão por 3x0 e ficou com a América do Sul aos seus pés pela primeira vez. Com quatro gols, Pepe foi o vice-artilheiro do Santos (ao lado de Pelé e Dorval) e só não participou do primeiro jogo da competição, contra o Deportivo Municipal, em La Paz.


A PRIMEIRA CONQUISTA DO MUNDO

O título da Libertadores deu ao Santos a chance de conquistar o mundo. O adversário era o Benfica, que tinha o moçambicano Eusébio (seria uma das estrelas da Copa de 66 na Inglaterra) comandando o ataque. Dois jogos decidiriam o terceiro título mundial da história (o Real Madrid fora campeão contra o Peñarol, em 1960, e o Peñarol, por sua vez, vencera o Benfica, em 1961). O clube lisboeta, que vinha para sua segunda final consecutiva de mundial, contava com dez jogadores que já haviam vestido ou vestiriam a camisa da seleção de Portugal e havia batido o Real Madrid (cinco vezes campeão europeu) de Puskás e Di Stéfano, por 5x3 na final da Liga dos Campeões, no Estádio Olímpico de Amsterdã, quatro meses antes. Seu técnico era o chileno Fernando Riera, que tinha levado o Chile à semifinal da Copa em junho daquele ano, e como jogador esteve na Copa de 50.


Por outro lado, Lula, o comandante santista também tinha nas mãos uma seleção: dos doze jogadores que ele usou nos dois jogos, apenas o lateral Dalmo Gaspar não vestiu a amarelinha (no ano seguinte, Dalmo faria um gol importantíssimo… mas isso é história para daqui a pouco).


O primeiro duelo aconteceu no Maracanã, em 19 de setembro, uma quarta-feira à noite, para um público de 86 mil pagantes e mais oito mil convidados e penetras. A opção pelo Maracanã foi porque a diretoria santista acreditava que corintianos, palmeirenses e são-paulinos torceriam a favor do Benfica. A escolha deu certo: os torcedores cariocas vibraram quando Pelé pegou o rebote de uma falta cobrada por Pepe e abriu a contagem aos 31’ do 1º tempo. O placar ficou assim até o final da etapa. Depois do intervalo, o angolano Santana empatou aos 14’. O esquadrão alvinegro não sentiu a pancada e Coutinho, quatro minutos depois em grande jogada individual, voltou a colocar o Santos em vantagem. Os portugueses tentaram de todas as formas chegar ao empate, mas Pelé, aos 41’, após tabela com Coutinho, fuzilou: 3x1. Com o jogo no finzinho, o Peixe relaxou, mas relaxou demais e no minuto seguinte, Santana, ele de novo, marcou para o Benfica. Placar final: Santos 3x2.


Vinte e dois dias depois, em uma quinta-feira à noite, 22 horas no horário local, 19 horas no horário de Brasília, 73 mil pessoas lotavam o Estádio da Luz, em Lisboa. Os torcedores das "Águias" estavam confiantes, mas mal sabiam o que estava por vir… Por aqui, o jogo foi considerado tão importante que “A Voz do Brasil” (noticiário radiofônico estatal de divulgação obrigatória transmitido desde 1935 no mesmo horário do jogo), pela primeira vez na história, deixou de ser retransmitida na hora de sempre para que os ouvintes santistas (e brasileiros) pudessem acompanhar a decisão. Ainda não tínhamos jogos televisionados na época.


O técnico Lula fez uma mudança estratégica: sacou do time o meia Mengálvio (titularíssimo e um dos cinco do “ataque de pesadelos do adversário”), puxou o lateral Lima para o meio e colocou o zagueiro Olavo (ex-Corinthians) ao lado de Mauro, Calvet e Dalmo. Estava preocupado em ter um Santos mais forte na marcação. Precisava mesmo? Pelé marcou aos 17’, desviando de carrinho um chute cruzado de Pepe, e aos 27’, após receber passe de Zito e driblar três defensores benfiquenses. Santos 2x0.


Riera até pode ter pedido para que seus comandados fizessem algo diferente nos 45 minutos finais, mas nunca saberemos, porque logo aos 3’, Pelé cruzou na medida para Coutinho fazer o terceiro do Peixe. E Pelé fez o quarto, aos 20’, depois de grande jogada individual e de defesa parcial do arqueiro Costa Pereira. O “Canhão da Vila”, aos 32’, arredondou o placar para 5x0, marcando aquele que denominou como o gol “mais feio” de sua carreira. Segundo Pepe, em uma bola atrasada pela defesa, o goleiro benfiquense se atrapalhou todo com a sua presença, escorregou na grama e a pelota ficou à feição para ele empurrar para as redes. Quando faltavam menos de cinco minutos para o final, Eusébio e Simões descontaram para o Benfica, mas era pouco… e tarde. 5x2 para o Peixe, campeão mundial de clubes no ano de seu cinquentenário.


1962 - BICAMPEÃO NO CHILE, NOVAMENTE SEM JOGAR

Pepe ficou de fora da Copa América de 1959, disputada na Argentina (o Brasil foi vice com los hermanos campeones) e só foi chamado por Vicente Feola, ainda no comando da seleção, para a turnê que o Brasil fez pela África (jogos contra o Egito) e pela Europa entre abril e maio de 1960. Como último campeão do mundo, o Brasil não precisou passar por eliminatórias à Copa de 62 e a preparação baseou-se em jogos amistosos, além dos tradicionais torneios contra seleções sul-americanas (Copa Roca, Taça do Atlântico, Taça Oswaldo Cruz e Taça Bernardo O’Higgins) e de períodos de treinamentos em Campos do Jordão e Serra Negra/SP e Nova Friburgo/RJ.


Na passagem de 1960 para 1961, Feola precisou se afastar do comando técnico da seleção devido a problemas de saúde (nefrite aguda e problemas cardíacos inerentes à obesidade) e Aymoré Moreira foi chamado para substituí-lo. Aymoré convocou 41 jogadores para a etapa de treinamentos. Na disputa pela ponta-esquerda, Pepe, Zagallo e a revelação Germano, do Flamengo. Germano estava na seleção que disputou o Pan-americano de 1959, em Chicago, e participou, no mesmo ano, de dois jogos contra a Colômbia, válidos pela vaga aos Jogos Olímpicos de Roma/60.


Pepe treinava bem (fez até gols em treinos), Zagallo era o mesmo Zagallo de sempre, pronto a se sacrificar pelo esquema de jogo, e Germano (o irmão mais velho de Fio Maravilha, que mais tarde jogou também no Flamengo e foi imortalizado pela música de – naquela época – Jorge Ben) se destacava (após um “jogo e treino” – neste caso foi um mix de jogo contra a Ferroviária de Araraquara e treino entre equipes “amarela/titulares” e “azul/reservas” –, com a manchete “Germano deu ‘show’ de bola em Djalma Santos e foi o nº 1 da tarde”, a edição de 30/4/1962 da seção esportiva de A Noite, destacava a atuação do ponta do Flamengo que teria sido o melhor entre os 27 jogadores que participaram dos treinamentos do dia em Serra Negra, e que, em determinado lance, deixara o mito Djalma Santos “caído, de pernas para o ar”).


Mas Aymoré queria mexer o mínimo possível em tudo que se referia ao time de 1958. Se pudesse levar os mesmos 22 que foram à Suécia, ele levaria. Além do mais, ele conhecia bem a Pepe. Fora seu comandante em dois títulos nacionais da Seleção Paulista (em 1956 e 1959). Com isso, Germano sobrou (foi negociado pelo Flamengo com o Milan logo depois e chegou a jogar duas partidas - e marcar dois gols – pela Liga dos Campeões, da temporada 1962/63, mas poucos meses depois, ainda em 1962, foi emprestado ao Genoa. Poderia ter enfrentado Pepe no ano seguinte na disputa do Mundial de Clubes, mas isso não aconteceu…).


Nos amistosos, durante o período de preparação para a Copa, Pepe e Zagallo se alternavam como titulares, com Germano entrando durante os jogos. Num dos amistosos, o “Canhão da Vila” jogou contra a seleção de Portugal (vitória por 1x0 no Maracanã) e enfrentou Costa Pereira, Eusébio, Coluna, José Augusto e Simões, numa prévia do que viria no segundo semestre. No mesmo Maracanã, três dias depois (e cinco antes dos últimos cortes e da divulgação da lista dos 22 jogadores que iriam ao Chile), contra o País de Gales (a seleção fez 3x1 com gols de Garrincha, Coutinho e Pelé), Pepe torceu o joelho e correu o risco de ficar fora da Copa. Não participou do jogo seguinte, contra o mesmo País de Gales, na véspera de 17 de maio, o dia da “lista”. Mas Aymoré Moreira resolveu bancar a sua convocação, mesmo lesionado.


No Chile, como todos já sabemos, a comissão médica da seleção, liderada pelo mesmo Hilton Gosling da Copa de 58, tentou de todas as maneiras recuperar Pepe, o que não aconteceu. Zagallo foi titular em todos os jogos e marcou o primeiro gol do Brasil na Copa, contra o México (vitória por 2x0).


Pepe, mais uma vez, viu a Copa passar das arquibancadas. E por ter sido campeão do Mundo em 1958 e bicampeão do Mundo em 1962, sem jogar, Pepeé um dos Super-Reservasde O Mundo da Copa do Mundo.


A SEGUNDA CONQUISTA DA AMÉRICA

Na sua segunda Libertadores, Pepe e o Santos foram favorecidos por uma mudança de regulamento que acontecera um ano antes; entre 1962 e 1970, o campeão do ano anterior precisava disputar apenas quatro jogos (semifinais e finais) para repetir a dose. Por isso, o Peixe foi direto para as semifinais, e o adversário seria o Botafogo, de Zagallo (em campo estaria praticamente metade dos jogadores bicampeões mundiais no Chile apenas dois meses antes). Na outra semifinal, o Boca Juniors e o (onipresente) Peñarol.


Decididamente, 1963 foi um ano de decisões entre Santos e Botafogo, indiscutivelmente os melhores times daquela época. Em março e abril, três batalhas, válidas ainda pela Taça Brasil/62, marcaram a decisão do título e o cenário esportivo do primeiro semestre (4x3 para o Peixe no Pacaembu; 3x1 para o Botafogo no jogo de volta no Maracanã; e um atropelamento comandado por Pelé na “negra”, também no Maracanã: 5x0, naquele que foi chamado de “o maior jogo do mundo”).


Fora de combate, Pepe não jogou o primeiro duelo das semifinais contra o Bota. No seu lugar, o ponta-esquerda Tite fez seu jogo de despedida pelo Santos. Garrincha, já com seu joelho direito “baleado”, desfalcava o Botafogo. E o Peixe por pouco não derrapa no Pacaembu. Jair Bala fez 1x0 para o Fogão aos 24’ do 2º tempo. Com o resultado adverso, o Santos iria para o jogo de volta no Rio de Janeiro precisando de uma vitória para provocar uma melhor de três, já que não havia critério para desempate. O Botafogo tentou segurar a vitória com todas as forças, mas Pelé igualou o marcador no último minuto de jogo, depois de tabelar com Coutinho. Manga ainda tocou na bola, mas não deu para segurar: 1x1, placar final. Com o empate, quem ganhasse no Maracanã faria a final contra o Boca Juniors, que vencera o Peñarol duas vezes na outra semifinal.


Seis dias depois, em um Maracanã com um público não tão grande (44 mil pagantes), Santos e Botafogo entraram em campo para decidir a vaga à final. Garrincha voltava ao Fogão e Pepe ao Peixe. Mais um duelo Pepe x Zagallo. E cedo o Santos mostrou que encarnara o mesmo espírito do “maior jogo do mundo” do abril anterior. Aos 11’, Pelé recebeu lançamento na entrada da grande área e sem dominar a bola esperou que ela quicasse na meia-lua para encobrir o goleiro Manga com maestria. O segundo de Pelé, e do Santos, não demorou mais que quatro minutos. Pepe alçou a bola na área e Pelé subiu com Joel, Nilton Santos e Manga. Bola no fundo das redes: 2x0 Peixe. Aos 32’, Pelé invadiu a área, driblou Manga e foi derrubado: pênalti, que ele mesmo converteu, um minuto depois (pouco antes o árbitro Eunápio de Queiroz havia anulado um gol legal de Coutinho, que vencera Manga após receber passe açucarado de Pelé).


O Santos voltou para o segundo tempo cadenciando o jogo, enquanto o Botafogo tentava desesperadamente seu primeiro gol, mas nem Garrincha funcionou naquela noite. A goleada foi fechada por Lima, que recebeu lançamento na entrada da área, em velocidade, livrou-se de um zagueiro e bateu na saída de Manga. Mais uma vitória de Pepe, em seu duelo particular com Zagallo, que nem ficou até o final, dando lugar a Jair Bala. O Peixe estava na final da Libertadores pelo segundo ano consecutivo.


Para a primeira final contra o Boca, o Santos seguiu o script da decisão do mundial no ano anterior contra o Benfica e mandou o jogo no Maracanã. Sessenta e três mil pagantes, com o francês Marcel Bois no apito (depois dos problemas de arbitragem do segundo jogo da final do ano anterior, a Conmebol optou por um mesmo juiz europeu para os dois jogos), e Coutinho abriu os trabalhos já aos 2’ de jogo, após receber bola na entrada da área, pela direita, e fuzilar a meta de Errea – a jogada foi iniciada num contra-ataque por Pelé que roubou a bola de Rattín, ainda na intermediária santista. No segundo, aos 21’, passes rápidos (que envolveram todo o setor defensivo do Boca) de Calvet para Lima para Zito para Coutinho, que novamente fuzilou Errea da entrada da grande área: 2x0 Peixe. Lima fez o terceiro aos 28’. O artilheiro Sanffilippo descontou aos 43’.


O placar permaneceu inalterado até os 44’ do 2º tempo, quando Sanffilippo, de novo, marcou para o Boca, após tabelar com Rojas. Mas como o jogo terminou com a vitória santista por 3x2, os gols de Sanffilippo não significaram muito, já que não havia a regra de desempate pelo saldo de gols. Com um empate na Argentina, o Santos seria bicampeão. Para o Boca restava ganhar o jogo na Bombonera para forçar uma melhor de três.


Em La Bombonera, o 1º tempo ficou no 0x0, graças a um milagre de Gilmar ao defender um chute à queima-roupa de Rojas. Com este resultado o Santos seria bicampeão da Libertadores, mas logo depois do apito de Bois para os últimos 45 minutos, Sanfillippo (que já tinha marcado os dois gols na partida de ida no Maracanã) fez 1x0, ao pegar de primeira um rebote na área, em cruzamento de Grillo. La Bombonera, com 85 mil torcedores, veio abaixo, mas o Santos não se atemorizou e, quatro minutos depois, Pelé recebeu passe de Dorval, matou a bola no peito, livrou-se de um zagueiro e, com um passe genial, deixou Coutinho na cara do arqueiro Errea. Coutinho não perdoou e arrematou com força para empatar. A pressão do Boca continuou intensa, a torcida xeneize gritando e empurrando o time, e o Peixe se segurando e contando os minutos para o final do jogo. E daí, Coutinho, aos 37’, retribuiu o passe de Pelé para o primeiro gol. O “dez” santista recebeu a bola, deu um drible seco no zagueiro brasileiro Orlando Peçanha e disparou um petardo no canto direito de Errea (que minutos antes havia feito um milagre defendendo em dois tempos um chute do Rei). Santos 2x1. Peixe bicampeão da América!


A SEGUNDA CONQUISTA DO MUNDO

Quando Pepe, Pelé e o time dos Santos passaram por Milão em junho de 1963 para jogar o Torneio Cidade de Milão com a Internazionale e o Milan, ainda não tinham passado por Botafogo e Boca na Libertadores, mas já sabiam que se chegassem ao bi da competição sul-americana enfrentariam na decisão do Mundial de Clubes, o Milan, que batera o Benfica, um mês antes, no Estádio de Wembley, em Londres, por 2x1, na final da Liga dos Campeões, com dois gols de Altafini (o nosso Mazzola). E a passagem do Santos por Milão, no torneio que reunia os atuais campeões italiano, europeu, e sul-americano e mundial, foi desastrosa: duas derrotas (2x0 para a Inter e 4x0 para o Milan), seis gols sofridos e nenhum marcado. Mazzola marcou os quatro gols do Milan. A edição de 23 de junho (um dia após a goleada) do Corriere della Sera estampava a manchete “Il Milan campione d’Europa ha battuto i brasiliani campioni del mondo – Festival di Altafini: quattro gol al Santos / O Milan, campeão da Europa, venceu os brasileiros campeões do mundo – Festival de Altafini: quatro gols no Santos”. Depois o rossonero enfiou mais quatro na Inter e foi campeão.


Quatro meses depois o Santos estava de novo em Milão. Para enfrentar novamente o Milan, agora como bicampeão sul-americano. O time de Milão perdera seu treinador Nereo Rocco (o precursor do catenaccio, estratégia de jogo ultradefensivista) e no seu lugar assumira o argentino Luis Carniglia (técnico bicampeão europeu com o Real Madrid entre 1957 e 1959). E também contava com um novo reforço: Amarildo, o “Possesso”, o homem que deu conta de substituir Pelé na Copa do Chile. No dia 16 de outubro, uma quarta-feira, o Milan entrava no San Ciro em busca de seu primeiro título mundial e o Santos buscava o bi. Logo aos 3’, depois de um rebote da defesa santista em um cruzamento de Rivera da ponta-esquerda, Trapattoni (aquele mesmo que seria técnico da Itália na Copa de 2002 e fora à Copa do Chile como jogador da Azzurra – sem jogar) chutou de primeira, rasante, sem chances para Gilmar, abrindo o marcador. Amarildo fez o segundo de cabeça, aos 15’, disputando no alto uma bola com Haroldo e Geraldino, e o 1º tempo ficou assim: 2x0 Milan.


Mais bem postada, a equipe do Peixe deu uma respirada, aos 10’, quando Pelé, recebeu a bola na entrada da área, se livrou de Lodetti e Trebbi e bateu na saída do goleiro Ghezzi, descontando. Mas se o técnico Lula e seus comandados pensaram que o Milan sentiria o gol, esqueceram-se que do outro lado estava o “Possesso”… Amarildo marcou de novo, aos 23’, escapando em velocidade pela ponta-esquerda, deixando Lima na saudade e batendo cruzado, com força. E o 4x1 saiu aos 37’, quando o atacante Mora recebeu passe de Rivera no meio da zaga santista, e com um toque sutil, deixou Gilmar sem pai nem mãe. Perder por um ou perder por dez não fazia diferença porque não havia desempate em saldo de gols. O Peixe teria de vencer o segundo confronto no Brasil para provocar um jogo de desempate. Aos 40’, o árbitro austríaco Alfred Haberfellner marcou pênalti de David sobre Mengálvio. Dois minutos depois, Pelé bateu com a classe de sempre e deu números finais ao jogo: 4x2, para delírio dos quase 52 mil rossoneri presentes no San Ciro. Poderia ter sido 4x3 (o que não faria diferença nenhuma…), se Haberfellner não tivesse anulado um gol de bicicleta de Coutinho, aos 45’, depois de passe magistral de Pelé, atendendo a indicação (incorreta) de impedimento de um de seus auxiliares.


No jogo de volta, em um Maracanã com 132 mil espectadores, o Santos não teria Calvet, Zito, Geraldino e Pelé machucados. Nos seus lugares, Mauro, Ismael (Lima iria da lateral para o meio no lugar de Calvet), Dalmo e Almir Pernambuquinho (este com a maior responsabilidade do mundo: substituir o Rei numa final onde o Peixe já sairia em desvantagem). E o Milan começou a todo vapor. Aos 13’, Mazzola subiu para cabecear para as redes, aproveitando indecisão de Gilmar e do zagueiro Haroldo. O time do Santos, que precisava da vitória ficou atordoado. Quatro minutos depois, os milanistas bateram rápido uma falta no meio de campo e Maldini enfiou a bola, entre os zagueiros Haroldo e Mauro, para o ponta Mora, que não deu chances a Gilmar: 17’ e Milan 2x0. Não poderia ser pior. O jogo era pegado, violento até, com jogadores dos dois times chegando junto nas divididas. Ghezzi fez milagre defendendo um tirambaço de Pepe. Almir, que com sua personalidade irrequieta incendiava o restante dos jogadores do Peixe, meteu uma bola na trave. Antes do jogo ele prometera “acertar” Amarildo (o que aconteceu mesmo no jogo seguinte), que teria dito em entrevista na Itália que Pelé estava acabado para o futebol.


No intervalo, enquanto Lula tentava acertar o time para a segunda etapa e o torcedor santista pedia aos céus por um milagre, um temporal desabou sobre o Maracanã e inundou o gramado. Era o que o Santos precisava: algo que tornasse o jogo totalmente diferente nos últimos 45 minutos. Os céus tinham ouvido o torcedor do Peixe. E foi aí que brilhou a estrela do “Canhão da Vila”, com seu “chute-foguete”. Se os goleiros já tinham medo do chute de Pepe em campo seco, imagine com a bola deslizando em um espelho d’água. Logo aos 5’, Pepe soltou um petardo na cobrança de falta sofrida por Coutinho na entrada da área, descontando: 2x1. Quatro minutos depois foi Pepe quem sofreu entrada de David na esquerda do ataque. Dalmo alçou a bola na área, Mengálvio e Almir subiram com a defesa e a bola entrou. Na súmula o juiz argentino Juan Brozzi deu o gol para Almir. Mengálvio jura de pés juntos até hoje que o gol foi seu. 2x2, o Santos empatava o jogo em apenas nove minutos. 9+9=18. E foi aos 18’ que Mengálvio e Lima tabelaram na intermediária e Lima partiu como um bólido em direção ao gol de Ghezzi, disparando um balaço da entrada da área que o italiano acompanhou apenas com os olhos. Agora quem estava perdido era o time milanista, enquanto o Peixe deslizava pelo gramado encharcado do Maracanã (peixe e água, a combinação não poderia ser melhor).


Este resultado já garantia a realização do jogo de desempate, mas aos 22’, Pepe novamente detonou seu canhão. Ele mesmo foi derrubado por Maldini na entrada da área. Pegou a bola nas mãos, colocou-a na posição e mandou um projétil no meio da barreira, que abriu. Ghezzi não pôde fazer nada. Menos da metade do 2º tempo e o Santos devolvia os 4x2 do San Ciro. Pepe considera estes dois gols como os mais importantes de sua carreira com a camisa 11 do Santos. E o jogo também.


Almir, a exemplo do 1º tempo, continuou “tocando fogo” no jogo. Anos depois em um “livro-entrevista autobiográfico”, intitulado “O futebol e eu” e publicado pela Revista Placar, admitiu ter jogado dopado contra os italianos. No mesmo livro, disse que o árbitro argentino Brozzi teria sido “amaciado”, que na gíria da época equivaleria a “estar comprado; na gaveta”, pela direção santista. No final, os italianos reclamaram muito da atuação de Brozzi (que, para desespero deles, apitaria também o jogo de desempate dois dias depois), que teria fechado os olhos para lances mais violentos de parte dos santistas. O goleiro Ghezzi, o defensor David e o meia Rivera seriam desfalques na decisão.


No sábado, dois dias depois, o público foi um pouco menor, 120 mil pessoas, que esperavam espetáculo, mas viram coisa bem diferente. O jogo foi uma pancadaria. O Santos veio com o mesmo time dos 4x2. No Milan entraram o goleiro reserva Balzarini, o centrocampista (volante hoje) peruano Benítez e o atacante Fortunato. Além disso, para adequar o time às mudanças, e escaldado pelo resultado de 48 horas antes, Carniglia fez várias mexidas no posicionamento dos jogadores. O rossonero tinha outro brasileiro no elenco, Dino Sani (campeão do mundo pelo Brasil na Suécia), mas que, lesionado, ficou de fora dos três jogos.


O “Pernambuquinho” repetiu no jogo decisivo sua atuação da antevéspera. Foi mais violento até. E conseguiu “acertar” Amarildo, com um pontapé por trás, já no primeiro minuto de jogo. Se Brozzi quisesse poderia tê-lo expulsado. Aos 30’ protagonizou o lance capital do jogo. Em uma bola alçada na área milanista, antevendo o movimento que Maldini faria para rebatê-la, se jogou na frente dele e foi acertado na cabeça pelo defensor italiano. Segundo jornais da época, Brozzi marcou acertadamente o pênalti, mas os ânimos estavam exaltados demais com a atuação do argentino na partida anterior e, também, naqueles primeiros trinta minutos. Maldini não aceitou a marcação e foi para cima do juiz, que o expulsou. O jogo ficou interrompido por vários minutos (o que já acontecera logo no início, depois da falta violenta de Almir em Amarildo e voltaria a acontecer no final do 1º tempo, quando “Pernambuquinho” acertou o goleiro Balzarini, que precisou ser substituído pelo segundo reserva, Barluzzi). Depois da grande atuação no jogo anterior, Pepe poderia ter marcado ainda mais o seu nome na galeria de heróis santistas se tivesse batido o pênalti (ele os batia na ausência de Pelé), mas o lateral Dalmo se adiantou, pôs a bola na marca fatal e bateu rasteiro, à esquerda de Balzarini. 1x0 Peixe. Os primeiros 45 minutos sé trminaram no minuto 56, não sem antes Brozzi expulsar mais um, desta vez do Santos. Aos 51’, o lateral Ismael revidou com uma cabeçada a uma entrada forte de Amarildo.


Os 45 minutos finais foram de pura transpiração. Foi com o “coração no bico da chuteira” como os torcedores gostam de dizer. Os jogadores do Peixe seguraram com unhas e dentes o placar mirrado, mas suficiente para conquistar o mundo pela segunda vez consecutiva. Almir jogou boa parte do 2º tempo com câimbras nas pernas. Deu botinadas, prendeu a bola, levou botinadas. Foi estrela na ausência de Pelé. O Santos era Pelé, mas o Santos também não era só Pelé. Era Gilmar, Lima, Haroldo, Calvet, Geraldino, Zito, Mengálvio, Dorval, Coutinho, Ismael, Mauro, Dalmo… era Pepe, e era Almir, o “Brasileirinho”... e era Laércio, Silas, Joel Camargo, Olavo, Formiga, Décio Brito, Getúlio, João Carlos, Zé Carlos, Maneco, Figueiró, Tite, Toninho Guerreiro, Batista, Nilzo, Cido, Rossi, Hemilton e Luis Cláudio. E Luis Alonso Pérez, o Lula, é claro…


O COMEÇO DO FIM

Pepe começou a perder lugar no Santos com a chegada de Abel, depois do Torneio Rio-São Paulo de 1965. Abel, com 24 anos, chegava do América/RJ, que fora o lanterna da competição, mas o futebol do ponta-esquerda carioca já vinha aparecendo havia algum tempo. Ele chegou querendo lugar no time e o técnico Lula optou por um revezamento entre Pepe e Abel no campeonato paulista e na Taça Brasil, apesar de Abel ter jogado bem mais jogos no Paulistão (foram 21 contra nove participações de Pepe). E um ano depois a coisa piorou…


1966 marcou a subida para os profissionais de mais um talento revelado na Vila Belmiro, o jovem Edu (participou das Copas de 70 e 74), que estreou nos profissionais com apenas 16 anos, em março de 1966, na vitória de 2x1 sobre a Portuguesa, em jogo válido pelo Rio-São Paulo, quando entrou na ponta-direita no lugar de Del Vecchio (Abel estava na ponta-esquerda). Depois disso, Edu revezou o lado esquerdo do ataque santista com Abel. Pepe não foi titular em nenhum jogo do Rio-São Paulo e dos três foi o que menos jogou no ano.


Nos três anos seguintes, Pepe praticamente não entrou em jogos oficiais. Em 1967 foi titular em apenas dois jogos do Paulistão. Neste mesmo ano, no primeiro Robertão (o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, disputado entre 1967 e 1970, foi o primeiro torneio nacional a contar com uma participação de um maior número de clubes. Em 1968, a CBD tentou mudar o nome da competição para Taça de Prata, mas não deu certo. O apelido Robertão já tinha pegado. 42 anos depois, aa CBF reconheceu como títulos nacionais os campeões das quatro edições), jogou apenas uma vez, no lugar de Abel, na vitória de 3x0 sobre o Ferroviário, do Paraná. E não mais participou de um jogo oficial completo. No ano seguinte, novamente foram só dois jogos (mas nenhum como titular) pelo Paulistão: entrou no lugar de Edu, contra o América de Rio Preto (vitória do Peixe por 4x3) e substituiu o ponta-direita Kaneko, na vitória de 1x0 sobre o São Bento (Edu passou para a direita e marcou o gol da vitória aos 41’ do 2º tempo). Jogou outras duas vezes pelo Robertão; na derrota por 3x2 para o Atlético (PR), no Durival de Brito, em Curitiba, entrou como titular, mas cedeu o lugar para Abel, enquanto Edu atuava pela direita; e, no empate por 1x1 com o Bangu, entrou no lugar de Edu.


Em 21 de setembro de 1967, Pepe recebeu da Confederação Brasileira de Desportos uma medalha de prata (a medalha de ouro era destinada aos atletas amadores) referente ao Prêmio Belfort Duarte por nunca ter sido expulso em uma partida de futebol.


1969 - A DESPEDIDA

A despedida veio em um jogo do Paulistão de 1969. Mas ela já estava programada 18 meses antes, quando a diretoria do Santos ofereceu a Pepe um último contrato com este tempo determinado e, após, a possibilidade de iniciar uma carreira de treinador nas categorias de base do clube.


O última partida de Pepe com a camisa do Santos foi contra o América de Rio Preto, em 19 de março, na Vila Belmiro, valendo pelo campeonato paulista. Pepe entrou no decorrer do jogo no lugar de Douglas. O Peixe venceu por 2x1, com dois gols de Edu, que passou para a faixa direita do campo depois da entrada do “Canhão”.


Mas a despedida oficial aconteceu no dia 3 de maio, um sábado, na Vila Belmiro. Foi contra o Palmeiras, quando Pepe não jogou e apenas deu uma volta olímpica no gramado, sendo ovacionado por quase 23 mil espectadores. Era o adeus à bola. Depois, com ela correndo, o Palmeiras venceu por 1x0, gol de Copeu.


O último gol de Pepe com a camisa alvinegra santista foi contra o Atlanta Chiefs, dos Estados Unidos, em 28 de agosto de 1968. O amistoso rolou no Atlanta Stadium. Pepe entrou no lugar de Edu e marcou o seu na vitória por 6x2. Em competições oficiais, o último gol já “estava longe”. Fora contra o Botafogo de Ribeirão Preto, em partida válida pelo Paulistão de 1966 (em 4 de dezembro), na Vila Belmiro. O “Canhão da Vila” marcou o segundo gol santista na vitória do Peixe por 3x1.


O CONFRONTO PEPE x ZAGALLO

Pepe e Zagallo se enfrentaram 15 vezes (quatro jogos de Zagallo pelo Flamengo e 11 pelo Botafogo). Foram sete vitórias para cada um e um empate (este no jogo válido pelo Torneio Internacional do Morumbi em que Pepe jogou pelo Combinado Santos/Vasco, vestindo a camisa vascaína). Mas no “saldo de gols”, Pepe ganha com folga: marcou sete gols no time de Zagallo, enquanto o “Velho Lobo” anotou apenas uma vez contra o time do “Canhão da Vila”. Não bastasse isso, as vitórias de Pepe foram bem mais marcantes: os dois pontos ganhos com o 4x2, no Maracanã, na 1ª rodada do Rio-São Paulo de 1959, significaram o título (o Santos terminou apenas um ponto na frente do Vasco); no mesmo ano, outra vitória (e mais uma goleada – 4x1), marcou a 1ª edição do Torneio Teresa Herrera, disputado em jogo único por Santos e Botafogo, em La Coruña, na Espanha – Pepe foi às redes duas vezes neste jogo; em 1962, o Santos decidiu a Taça Brasil em três jogos com o Botafogo – o último embate, foi chamado de “o maior jogo do mundo” e terminou com o placar de 5x0 para o time de Pepe, em pleno Maracanã (em tempo: nesses três jogos decisivos Pepe marcou três vezes); e em jogo válido pela Copa Libertadores da América de 1963 (quando o Santos seria bicampeão), o Peixe enfiou mais uma goleada no Fogão, dentro do Maracanã (4x0), e eliminou o alvinegro nas semifinais do torneio. No confronto Pepe x Zagallo, vitória de goleada do “Canhão da Vila”.


PEPE X ZAGALLO – todos os jogos:

09/04/55 – Flamengo 5x1 Santos – Rio-São Paulo 1955 – (1 gol de Zagallo)

04/09/56 – Flamengo 2x1 Santos – Taça dos Campeões Estaduais de Rio e São Paulo de 1955

26/06/57 – Combinado Santos/Vasco 1x1 Flamengo – Torneio Internacional do Morumbi 09/03/58 – Santos 2x3 Flamengo – Rio-São Paulo 1958

09/04/59 – Botafogo 2x4 Santos – Rio-São Paulo 1959

21/06/59 – Santos 4x1 Botafogo – Troféu Teresa Herrera – (2 gols de Pepe)

01/04/61 – Santos 4x2 Botafogo – Rio-São Paulo 1961

23/04/61 – Santos 1x2 Botafogo – Rio-São Paulo 1961 – (1 gol de Pepe)

03/01/62 – Botafogo 3x0 Santos – Amistoso (jogo de entrega mútua das faixas de campeões carioca e paulista de 1961)

19/03/63 – Santos 4x3 Botafogo – 1º jogo das finais da Taça Brasil 1962 – (2 gols de Pepe)

31/03/63 – Botafogo 3x1 Santos – 2º jogo das finai da Taça Brasil 1962 (este jogo valeu também pela última rodada do Rio-São Paulo de 1963)

02/04/63 – Botafogo 0x5 Santos – 3º jogo das finais da Taça Brasil 1962 – (1 gol de Pepe)

28/08/63 – Botafogo 0x4 Santos – Libertadores 1963

25/04/64 – Botafogo 1x3 Santos – Rio-São Paulo 1964 – (1 gol de Pepe)

10/01/65 – Botafogo 3x2 Santos – Rio-São Paulo 1964

O PEPE TREINADOR SANTISTA

Após quatro anos treinando as categorias de base, Pepe teve sua primeira oportunidade nos profissionais do Peixe no campeonato paulista de 1973. E chegou já com o pé direito (no caso dele, com o pé esquerdo!). Foi campeão, mas teve que dividir o título com a Portuguesa, depois do famoso “erro matemático” do árbitro Armando Marques, que encerrou a final, disputada no Morumbi, depois de o Santos fazer 2x0 nas cobranças de pênaltis (o placar ficou em 0x0 depois de 120 minutos de jogo), sem se dar conta de que ainda faltavam duas cobranças para a Lusa, que poderia empatar, caso o Santos perdesse as suas duas cobranças restantes. Avisado do erro, Marques (que mais tarde, entre 1997 e 2005, comandaria a Comissão de Arbitragem da CBF), tentou fazer com que os jogadores de ambos os times voltassem ao gramado para bater as penalidades faltantes, mas a Portuguesa já havia abandonado o estádio. No mesmo dia, depois de rápida reunião, a FPF declarou as duas equipes campeãs. Pepe comandou o Peixe também no Brasileirão, mas a equipe não chegou ao quadrangular final.


O “Canhão” retornou ao comando técnico do Santos em mais quatro oportunidades. Em 1975, substituiu o técnico Tim (Elba de Pádua Lima, que como jogador esteve na Copa de 38, e como treinador levou o Peru à Copa de 82), na 11ª rodada do campeonato paulista, perdendo para a Portuguesa, no saldo de gols, a vaga na final contra o São Paulo. No campeonato brasileiro, Pepe dirigiu o time em 11 jogos da primeira fase. O rendimento santista foi baixo, com apenas duas vitórias, e ele foi substituído por Olavo (Olavo Martins de Oliveira – jogou no Santos com Pepe entre 1961 e 1965), que no comando do Peixe obteve quatro vitórias e um empate no grupo 3 da repescagem na segunda fase, mas perdeu a vaga para a terceira fase do campeonato no saldo de gols para a Portuguesa do artilheiro Enéas e do técnico Otto Glória (a Lusa foi a pedra – ou o saldo de gols – na chuteira do Peixe no ano de 1975).


Nas temporadas de 1979 e 1980, Pepe voltou a treinar o time do Santos. Em 1979, substituiu o técnico Hilton Chaves, que por sua vez substituíra Chico Formiga (o técnico campeão paulista do ano anterior, e que estava sendo boicotado pelos “Meninos da Vila”). Foram 13 jogos (sete vitórias, três empates e três derrotas), válidos pelas últimas oito rodadas da primeira fase (que teve 38 rodadas) e pela segunda fase. Apesar da boa performance geral sob o comando de Pepe, os resultados na segunda fase (a derrota para o Juventus por 2x1 e a goleada de 5x1 sofrida ante o Palmeiras) não foram bons e o Peixe ficou de fora das semifinais. Neste mesmo ano, Santos, Corinthians, São Paulo e Portuguesa não disputaram o campeonato brasileiro (o último promovido pela CBD antes de virar CBF e continuar tudo a mesma coisa…), por discordarem da fórmula de disputa: 80 clubes divididos em dez chaves na primeira fase, com um total de três fases antes das semifinais. Apenas Guarani e Palmeiras (campeão e vice do ano anterior) entrariam direto na terceira fase e os outros clubes paulistas queriam o mesmo privilégio. A CBD disse não, e os clubes disseram não ao Brasileirão.


No ano seguinte, ainda sob o comando de Pepe, o Santos ficou com o vice-campeonato paulista. Depois de vencer o primeiro turno, o Peixe decidiu o título contra o São Paulo, dirigido por Carlos Alberto Silva. Foram duas vitórias de 1x0 para o tricolor, com ambos os jogos no Morumbi e com Serginho Chulapa (que três anos depois estaria vestindo a camisa santista) marcando os gols. Já no Brasileirão, o Santos ficou com o primeiro lugar de seu grupo tanto na primeira quanto na segunda fase, mas caiu na fase seguinte ao perder por 2x0, no Maracanã, para o Flamengo, de Júnior, Andrade, Carpegiani, Zico e Cia., que foi para as semifinais onde bateu o Coritiba e, posteriormente, sagrou-se campeão sobre o Atlético/MG.


Quase dez anos depois, em outubro de 1989, Pepe voltou a dirigir o Santos, substituindo a Nicanor Carvalho em meio ao Brasileirão. A estreia foi no primeiro jogo da segunda fase, um empate por 0x0 contra o Corinthians, no Morumbi. O desempenho da equipe sob o comando de Pepe não foi muito diferente do resultado obtido por Nicanor e o Peixe terminou o campeonato na sétima colocação. No Paulistão do ano seguinte, o Santos ficou em terceiro no grupo preto, que teve como vencedor o Bragantino de Vanderlei Luxemburgo. No outro grupo, o vermelho, o Novorizontino, de Nelsinho Baptista, chegou em primeiro e já sabemos o resultado: a primeira final de um campeonato paulista com dois clubes do interior, e com o Bragantino (de melhor campanha) campeão depois de dois empates por 1x1. No Brasileirão, Pepe levou o alvinegro praiano às quartas de final, mas foi eliminado pelo São Paulo, de Telê, depois de perder por 1x0 na Vila e empatar por 1x1 no Pacaembu.


Na sua última passagem pelo comando técnico do Santos, Pepe chegou a Vila em meio ao campeonato brasileiro de 1993, estreando cinco dias depois de ser demitido pela Portuguesa, no lugar do técnico Antônio Lopes (que, curiosamente, foi parar na Lusa, em um “quase troca-troca” de treinadores). Depois de um começo promissor, o time naufragou na fase decisiva, quando teve apenas uma vitória em seis jogos, e acabou na quinta posição. Ele permaneceu no Santos para comandar a equipe no Paulistão de 1994 – depois de muito tempo um campeonato sem fórmulas mirabolantes: virou Série A1, com 16 participantes e turno e returno; quem fizesse mais pontos levava a taça. O início do Peixe foi um desastre. Foram apenas duas vitórias em 11 jogos e Pepe não resistiu a goleada de 4x1 sofrida frente ao Palmeiras (o alvinegro praiano já havia sido goleado por 4x0 pelo Corinthians e perdera por 2x0 para o São Paulo) e foi demitido. No seu lugar entrou o ex-jogador Serginho Chulapa. No final, deu o Palmeiras, de Luxemburgo, que chegava ao bicampeonato.


CAMPEÃO CEARENSE

Em 1985, depois de passagem pelo Al-Sadd, de Doha, no Qatar, Pepe voltou ao Brasil para treinar o Fortaleza no campeonato cearense. O clube venceu o 3º turno do estadual e um triangular reuniu Ceará, Ferroviário e Fortaleza (respectivos vencedores dos três turnos classificatórios). Ceará e Fortaleza venceram o Ferroviário pelo mesmo placar, 1x0. Um empate por 0x0 entre Fortaleza e Ceará, no dia 22 de dezembro, com 58 mil espectadores no Castelão, deu o título à equipe treinada por Pepe por ter a melhor campanha do campeonato.


NA "DINAMARCA CAIPIRA" EM LIMEIRA

No ano seguinte, nova incursão de Pepe na Inter de Limeira, por onde havia passado em 1982 (dirigiu a Inter nas últimas 15 rodadas do Paulistão, substituindo Jair Picerni) e 1983 (quando comandou a equipe em apenas dois jogos do estadual, dando lugar a Pedro Rocha). Desta vez a história foi diferente. No primeiro turno do Paulistão, a Inter ficou com o sexto posto, à frente de São Paulo, Ponte Preta e Guarani (o Santos foi o campeão do turno), o que já foi um resultado surpreendente, mas o melhor estava por vir. A equipe conquistou o returno (ficando ainda com a primeira posição geral) e classificou-se para as semifinais. Além dela, Santos, Palmeiras e Corinthians (estes últimos os dois melhores da classificação geral).


Na semifinal, o time de Pepe pegou o seu ex-clube (o de pior campanha entre os quatro). Foram duas vitórias da Inter: 2x0 na Vila Belmiro (Pepe começava a despachar o Peixe no gramado onde fizera a sua vitoriosa carreira de futebolista), com gols de Kita e Gilberto Costa e, na volta, no Limeirão lotado, 2x1, com gols de João Batista e Kita (sempre ele), descontando Zé Sérgio para o Santos. O Palmeiras seria o adversário da final, depois de vencer o Corinthians na prorrogação do segundo jogo da outra semifinal. Por imposição da Federação Paulista de Futebol, os dois jogos aconteceriam no Morumbi. No primeiro, empate por 0x0. Três dias depois, numa quarta-feira, 3 de setembro, a “Dinamarca Caipira” (apelido que a Inter recebeu em alusão à campanha da Dinamarca, a “Dinamáquina”, na Copa do México), abriu 2x0 na segunda etapa, com gols do artilheiro Kita e do ponta Tato. Amarildo ainda descontou, mas os quase 70 mil torcedores viram o primeiro clube do interior sagrar-se campeão da elite do futebol paulista. E esta grande conquista teve o toque do técnico José Macia.


Em 1989, Pepe voltou à Inter na reta final da Série B do Brasileirão de 1988. Isso mesmo: a disputa do torneio fora paralisada entre 18 de dezembro e 28 de janeiro para as férias dos jogadores e início de temporada. Faltavam apenas três jogos do returno do quadrangular final. Até ali, a equipe fora dirigida por Levir Culpi. Pepe conseguiu uma vitória de três pontos (1x0 no Náutico) e duas vitórias de dois pontos: o regulamento previa cobrança de pênaltis em caso de empate, o que daria dois pontos a quem vencesse nas penalidades máximas (1x1 com a Ponte Preta e 6x5 nos pênaltis; e 1x1 com o Americano/RJ e 4x3 nos pênaltis). Inter e Náutico ficaram com as duas primeiras posições da fase final e garantiram o acesso à Série A na temporada 1989, mas fariam uma final em Limeira para ver quem ficava com o título. No dia 11 de fevereiro, no Limeirão com 7.500 pagantes, a Inter fez 2x1 no Náutico com gols de Machado e Silvinho. Newton descontou para o Timbu. E Pepe colocou mais uma faixa de campeão brasileiro no peito. Ele ainda comandou a Inter nas primeiras 12 rodadas do Paulistão, mas acertou sua demissão depois de receber o convite da Federação Peruana de Futebol para dirigir o Peru na Copa América daquele ano e nas eliminatórias à Copa da Itália.


Uma derrota na estreia do Paulistão para o Corinthians por 2x0 no Limeirão marcou mais um dos retornos de Pepe à Inter de Limeira, em 1997. O “Canhão” comandou a “Veterana”, no Grupo 2, em praticamente todo o campeonato. Saiu antes dos dois últimos jogos quando a equipe ainda corria algum risco de rebaixamento – tinha dois pontos a mais que a Portuguesa Santista e três a mais que o Mogi Mirim, os dois clubes que disputaram o playoffde rebaixamento junto com América e Botafogo (que foram efetivamente rebaixados), últimos colocados do Grupo 1. O interino Gilcimar comandou a equipe na vitória por 1x0 sobre o Guarani e na derrota por 2x0 frente ao Botafogo, em Ribeirão Preto. Os três pontos conquistados foram o suficiente para manter a Inter na Série A-1.


Em 1998, mais uma luta contra o rebaixamento. Pepe chegou na metade da primeira fase do paulista daquele ano à Inter, naquela que seria sua última passagem pelo clube. A equipe estava em quinto lugar, com quatro pontos ganhos em cinco jogos, em um grupo em que quatro equipes se classificavam para a segunda fase, já com a participação dos “grandes”, que disputavam o Rio-São Paulo, e as duas últimas teriam que encarar um quadrangular de repescagem para evitar o rebaixamento. Ele levou o time a três vitórias, contra Araçatuba (4x1), Rio Branco (3x2) e Matonense (2x1), mas a equipe perdeu para o Mogi Mirim (3x0) e o Guarani (3x1). Não foi o suficiente: apesar de ter conseguido com que a Inter ganhasse 9 pontos (mais que o dobro do obtido pelo técnico Márcio Araújo no primeiro turno), a posição na tabela continuou a mesma: a Inter ficou em quinto, na frente apenas da Araçatuba. Os dois clubes juntaram-se à Portuguesa Santista e Juventus, os últimos do outro grupo. Nos “jogos da degola”, Pepe salvou a Veterana e Luiz Antônio Zaluar (contratado como preparador físico no início do campeonato) salvou a AEA. A Briosa e o Moleque Travesso foram parar na Série A-2 na temporada 1999.


1986 - O MELHOR ANO DE PEPE COMO TREINADOR

Enquanto Pepe comandava a Inter de Limeira na final do Paulistão contra o Palmeiras, o São Paulo já jogava seus primeiros jogos pelo Brasileirão. O interino José Carlos Serrão esquentava o banco para o “Canhão” e entregou o time com cinco pontos ganhos em três jogos. Pepe estreou na goleada de 4x0 em cima do Ceará, no Morumbi. Depois de dez jogos o São Paulo terminou a primeira fase na liderança do Grupo A. Na segunda fase, já em 1987, o Tricolor ficou com a segunda posição do Grupo I, classificando-se para as oitavas de final. O adversário não poderia ser mais conhecido para Pepe: a Inter de Limeira. Era praticamente o mesmo time que ele comandara na conquista do Paulistão meses antes. Menos o artilheiro Kita, que havia sido negociado com o Flamengo. No primeiro confronto, um domingo, dia 1º de fevereiro de 1987, no Limeirão, quase 24 mil pessoas viram a Inter, do treinador Nelsinho Baptista, fazer 2x1 no tricolor de Pepe, com gols de João Batista e Gilberto Costa. Careca descontou para o São Paulo. Na quarta-feira feira seguinte, no Morumbi, a Veterana jogaria pelo empate, mas a estratégia de Nelsinho começou a ser demolida já no primeiro minuto de jogo quando Careca fez 1x0. Ainda no 1º tempo, Silas ampliou, e o mesmo Silas fechou o placar, 3x0, aos 10’ do 2º tempo.


Nas quartas, o tricolor passou pelo Fluminense (0x1 no Maracanã e 2x0 no Morumbi); nas semifinais eliminou o América/RJ (vitória: 1x0, e empate: 1x1). Na grande final, um confronto Paulista: São Paulo e Guarani – segundo jogo no Brinco de Ouro da Princesa, porque o Bugre tinha feito uma campanha melhor que a do São Paulo. No Morumbi, o placar ficou zerado até os 15’ da 2ª etapa, quando Evair (que depois faria grande carreira no Palmeiras) marcou para o Guarani. Três minutos depois, Careca (campeão brasileiro pelo Guarani em 1978) empatou. Em campo, com a camisa do Bugre, estava também Adenor Leonardo Bacchi, mais conhecido por “Tite”, o, hoje, comandante da seleção brasileira na Copa da Rússia. Com o placar final de 1x1, quem ganhasse em Campinas três dias depois seria campeão. Um novo empate levaria o jogo para a prorrogação e, persistindo a igualdade, a decisão seria nas penalidades máximas.


Os comandados de Carlos Gainete (goleiro tricampeão gaúcho pelo Inter em 1971) saíram na frente quando o lateral-esquerdo Nelsinho, do tricolor, marcou contra já aos 2’ de jogo. O volante Bernardo empatou aos 9’ e a bola não voltou mais às redes até José de Assis Aragão soprar o apito para o final do tempo regulamentar. Viria a prorrogação: 30 minutos que seriam mais emocionantes que os 90 iniciais. Pita fez 2x1 para o São Paulo com 1’ do tempo adicional, virando o jogo. Marco Antônio Boiadeiro empatou aos 7’. No 2º tempo da prorrogação, aos 2’, João Paulo virou o jogo novamente: 3x2 Bugre, que estava com um homem a menos – Wagner, que entrara no lugar de Tite, fora expulso cinco minutos antes. Mas o artilheiro Careca, que logo depois iria para o Napoli formar uma parceria inesquecível com Diego Armando Maradona, colocou números finais à partida, quando faltavam apenas dois minutos para o Guarani botar a mão na taça de bicampeão brasileiro. A decisão foi para os pênaltis e o São Paulo venceu por 4x3. O lateral Marco Antônio e João Paulo perderam para o Guarani. Careca (que marcou gols nas duas finais) desperdiçou um pênalti para o tricolor.


1986 realmente foi o ano do “Pepe treinador”. Campeão paulista com a Inter de Limeira (primeiro título paulista de um clube interiorano) e campeão brasileiro pelo São Paulo. Não tinha como ser melhor.


NÃO É FÁCIL LEVAR O PERU À COPA

José Macia aceitou, em 1989, o convite para levar a seleção peruana à Copa da Itália, mas sabia que não teria uma tarefa fácil pela frente. Dos 14 jogadores da geração peruana das Copas de 78 e 82, que ainda disputaram as eliminatórias à Copa do México, somente Franco Navarro e Jorge Olaechea continuavam à disposição para servir a seleção. Além disso, dois anos antes, em dezembro, o acidente com um avião Fokker F27 da marinha peruana, que caiu no Pacífico a poucos quilômetros do aeroporto Jorge Chávez, em Lima, com toda a delegação do Alianza (o clube voltava de um jogo contra o Deportivo Pucallpa, válido pelo campeonato nacional), chefes de torcida, árbitros do jogo e tripulação, ceifara a vida de 43 pessoas (apenas o piloto Edilberto Molina sobreviveu). Entre os jogadores que morreram no acidente, Luis Escobar, Carlos Bustamante, Tomás Farfán, Daniel Reyes e José Casanova eram promessas já convocadas anteriormente pela seleção. Morreu no acidente, também, o goleiro reserva da Copa de 82 (e que provavelmente seria convocado por Pepe), “Caíco” Gonzáles, tio do goleador Paolo Guerrero (Flamengo e seleção do Peru). A falta de jogadores mais experimentados e o quase inexistente investimento em categorias de base por parte da federação peruana de futebol deixaram Pepe com poucas opções para convocar.


E como se prenunciava, a estreia do “Canhão” no comando da seleção peruana não foi das melhores. O adversário, o Brasil, em amistoso disputado no dia 10 de maio, no Castelão, em Fortaleza. Goleada de 4x1 para a seleção canarinho, treinada por Lazaroni, com gols de Zé do Carmo, Bebeto e Charles (2). Carlos Torres fez o gol do time comandado por Pepe. Duas semanas depois, no Estádio Nacional de Lima, mais um confronto com o Brasil. Desta vez, empate por 1x1 (Cristóvão e Dall’Orso marcaram). Entre os dois duelos com a seleção brasileira, outros dois amistosos: empate por 1x1 com o Paraguai, no Defensores del Chaco e vitória sobre a Venezuela, 2x1, em Lima.


Antes de encarar a Copa América, disputada no Brasil em julho daquele ano, Pepe teve ainda cinco oportunidades para acertar a equipe: vitória sobre o América de Cali por 2x1 e derrota para a seleção dos Estados Unidos por 3x0, no Orange Bowl, em Miami (jogos válidos pela Marlboro Soccer Cup Series); derrota para Trinidad e Tobago por 2x1 e vitória sobre o Equador pelo mesmo placar (jogos válidos pelo torneio Trinidad Soccer Bowl, realizado em Port of Spain, capital da ilha caribenha); e derrota para a Venezuela, fora de casa, em San Cristóbal, por 3x1.


Na campanha da Copa América, em um grupo que reunia ainda Brasil (que acabou campeão), Colômbia, Paraguai e Venezuela, a Blanquirroja de Pepe conquistou três empates (inclusive um 0x0 com o Brasil, na Fonte Nova), mas levou uma sapatada do Paraguai na estreia: 5x2. O Peru ficou apenas à frente da Venezuela, cujo único pontinho foi ganho justamente contra o time de Pepe. E convenhamos, naqueles tempos ficar na frente da Venezuela era o mesmo que ser o último entre os outros.


Entre a Copa América e a disputa das eliminatórias para a Copa da Itália (que naquele tempo não eram, ainda, o interminável “campeonato de pontos corridos” em que se transformaram com o intuito principal de permitir que as grandes seleções sul-americanas tivessem mais jogos para se “recuperar de eventuais resultados negativos” – basta lembrar da Argentina, eliminada pelo próprio Peru antes da Copa de 70 em plena Bombonera, depois de um empate por 2x2. O Peru ganhara da Argentina, em Lima, por 1x0. Em um grupo de apenas três seleções qualquer derrota poderia tirar uma das “grandes” da Copa), a seleção peruana enfrentou os chilenos, em Arica: 2x1 para o Chile.


Em um grupo com três seleções: Bolívia, Peru e Uruguai, só havia uma possibilidade para o Peru: vencer os dois jogos contra a Bolívia e apostar todas as suas fichas contra o Uruguai em Lima. Mas os peruanos comandados por Pepe começaram mal. Na estreia, em La Paz, perderam para a Bolívia por 2x1, numa arbitragem muito contestada do juiz colombiano Armando Pérez, que marcou dois pênaltis para os bolivianos, um deles defendido pelo arqueiro Purizaga. No segundo jogo, em Lima, foi tudo para o brejo com a derrota de 2x0 sofrida ante La Celeste, com gols de Ruben Sosa e Alzamendi. Depois deste jogo, o Peru só tinha chances matemáticas de chegar à Copa da Itália, mas como 1+1 não é = 3, as chances reais eram de “zero”.


E o pior ainda estava por vir: no seu terceiro jogo, a Blanquirroja perdeu novamente para a Bolívia. E em casa. E novamente por 2x1. Desta vez não deu para culpar o árbitro. Pepe nem ficou para o quarto e último jogo, contra o Uruguai no Centenário. Quem dirigiu a seleção foi o técnico assistente Percy Rojas (da geração de jogadores peruanos das Copas de 78 e 82, e campeão da Copa América em 1975). Para a crônica esportiva peruana e também para os torcedores, Pepe é considerado o pior treinador que passou pela Blanquirroja em todos os tempos (matéria do jornal El Comercio, de Lima, em 8 de setembro de 2011, o chama de “Pepe Cero”), porque foi a única vez em que o Peru não marcou nenhum ponto em eliminatórias para Copas.


PARA JAPONÊS VER

Pepe foi levado para o país do sol nascente por indicação do japonês Kazu Miura (que começou a jogar no Moleque Travesso e passou por Santos, Palmeiras e Coritiba, entre outros clubes brasileiros, e que estava atuando no Yomiuri FC – que depois passou a se chamar Verdy Kawasaki e, atualmente, Tokyo Verdy 1969). No Yomiuri, Pepe sucedeu a Carlos Alberto Silva, que fora campeão nacional na temporada 1990/91, e levou o clube ao bicampeonato naquela que foi a última temporada (1991/92) da Japan Soccer League, sucedida no ano seguinte pela J. League. Além de Kazu, que foi escolhido o melhor jogador do certame, Pepe contou também com os brasileiros Toninho (artilheiro da liga) e Ruy Ramos (que disputou as eliminatórias das Copas de 90 e 94 pela seleção japonesa).


Com Pepe, o Yomiuri perdeu a final da Copa do Imperador de 1991 (a final é sempre disputada no dia 1º de janeiro do ano seguinte ao da edição) para o Nissan Motors (que depois mudaria o nome para Yokohama Marinos), por 4x1 – o Nissan contava com o brasileiro Renato, da seleção brasileira da Copa da Espanha, por 4x1. Mas para compensar (e muito), o time de Pepe venceu também a Copa da Liga Japonesa, batendo o Shimizu S-Pulse na final por 1x0, e a Copa dos Campeões, com uma vitória de 2x1 sobre o Toyota no jogo decisivo. Tudo no ano de 1992. E o “Canhão da Vila” ainda levou o prêmio de melhor técnico da temporada 1991/92 do futebol japonês.


CAMPEÃO DA SÉRIE B COM O FURACÃO

Pepe chegou ao Atlético/PR na metade da disputa do Brasileirão da Série B, em outubro de 1995, para o lugar do demitido Zequinha. Da estreia (6x0 sobre o Mogi Mirim) até o último jogo do quadrangular final (4x1 no Central de Caruaru) foram 11 vitórias, três empates e apenas uma derrota. Nas mãos de Pepe, uma campanha impecável que levou o Furacão de volta à elite do campeonato brasileiro após dois anos na 2ª divisão.


UMA PONTE PARA A ELITE

Em 1997, Pepe pegou a Ponte Preta na reta final do Brasileirão da Série B. Foi contratado para substituir o técnico Pardal, que dirigira a equipe desde o início da competição, mas não resistiu a derrota de 3x0 para o Náutico, nos Aflitos, na abertura do quadrangular final. Foram cinco jogos apenas, mas Pepe levou a Ponte a duas vitórias contra o Vila Nova/GO, uma vitória e um empate contra o América/MG – que foi o campeão –, e segurou um empate por 1x1 com o Náutico, no Moisés Lucarelli, na última rodada (a Macaca abriu o placar aos 11’ do 2º tempo com Claudinho, mas Chapecó empatou para o clube pernambucano dois minutos depois. O resto do jogo foi um sufoco para a Ponte (que ainda teve o zagueiro Renato Carioca expulso), pois se o Náutico virasse o jogo, as duas equipes ficariam empatadas em pontos e o alvirrubro de Recife tinha melhor saldo de gols. A Ponte acabou com o vice-campeonato e Pepe levou mais um clube à elite do futebol brasileiro.


A MELHOR CAMPANHA DA HISTÓRIA DA BRIOSA

Na Portuguesa Santista, Pepe substituiu Gilberto Costa na reta final do Paulista em 2002 – competição disputada sem os grandes clubes do Estado, que participavam de uma edição do Rio-São Paulo (posteriormente, uma disputa de um Supercampeonato paulista reunindo o campeão paulista, o Ituano, e os três clubes melhores classificados no Rio-São Paulo terminou com a vitória do tricolor do Morumbi) – para salvar a Briosa do rebaixamento à Série A-2. A Portuguesa tinha marcado apenas nove pontos nas primeiras 18 rodadas e com Pepe conseguiu outros dez pontos apenas nos últimos quatro jogos. Livrou-se da lanterna, mas ainda assim teve de disputar dois jogos de repescagem para se manter na Série A-1 do ano seguinte contra a Francana, vice-campeã da Série A-2. Dois empates (2x2 e 1x1 e vitória nos pênaltis por 3x2) garantiram a Briosa no Paulistão 2003, quando, ainda sob o comando do “Canhão da Vila”, a Santista obteve sua melhor campanha da história, chegando à semifinal, quando foi eliminada pelo São Paulo.


E FOI TÉCNICO DE GUARDIOLA

Pepe também passou pelo Paulista de Jundiaí (1978) – a equipe ficou em penúltimo lugar no Paulistão e teve que disputar uma série de três jogos contra o Velo Clube, de Rio Claro, vice-campeão da Divisão Intermediária. Já sem Pepe e sob o comando de Antônio Julião, o Paulista perdeu dois jogos e empatou um. Resultado: o Velo Clube subiu para a Divisão Especial e o Paulista caiu para a Intermediária; Atlético/MG (1981) – comandou a equipe nas primeiras oito rodadas do campeonato mineiro, sendo substituído por Carlos Alberto Silva, que levou o Galo à conquista do tetracampeonato; São José/SP (1981) – o clube teve cinco treinadores durante o Paulistão. Pepe comandou a equipe nas primeiras dez rodadas, sendo substituído pelo interino Nicanor de Carvalho. Depois vieram Tim, Ilzo Nery e Fidélis, que levou o São José a decisão do segundo turno contra o São Paulo e ao quarto lugar na classificação final; Náutico (1982) – foi substituído pelo interino João Ferreira no final do segundo turno, antes da chegada de Orlando Fantoni; Portuguesa de Desportos (1993) – chegou para ocupar o lugar de Cilinho no final do Paulistão e permaneceu no clube para o campeonato brasileiro. A equipe, que tinha Dener no elenco, estava na zona de classificação para os playoffs que decidiriam duas vagas à segunda fase do Brasileirão, mas mesmo assim, Pepe não resistiu a goleada sofrida ante o América/MG (rebaixado à Série B naquele ano) por 4x1. No seu lugar, o interino Pedro Sarmiento esquentou o banco para Antônio Lopes, que fora demitido pelo Santos, e para onde iria Pepe. A Lusa foi para os playoffs, mas acabou eliminada pelo Remo, com direito a uma sapecada de 5x2 em Belém; Guarani (1995 e 2003) – foi o quarto técnico da equipe no Paulistão/95, depois de Vadão, Givanildo e Celinho. E, depois, resistiu às oito primeiras rodadas do Brasileirão no comando da equipe, mas foi demitido após perder para o Juventude no Brinco de Ouro da Princesa. No seu lugar ficou (de novo) o interino Celinho e depois Nicanor de Carvalho. Oito anos depois, voltou a dirigir o Bugre no Brasileirão, mas perdeu o lugar para Luís Carlos Barbieri na 16ª rodada. O Guarani acabou na 13ª posição; Coritiba (1996) – foi substituído na 16ª rodada do Brasileirão, após derrota para o Bragantino, por Dirceu Krüger, o “Flecha Loira”, ídolo do Coxa nas décadas de 1960 e 1970; Criciúma (1997) – chegou nas últimas seis rodadas do Brasileirão para tentar salvar o clube do rebaixamento, mas não conseguiu. De quebra, ainda piorou o aproveitamento do técnico anterior, Sérgio Cosme, de 35% para 27%; Boa Vista, em Portugal (1987 e 1988) – na temporada 1987/88 Pepe levou o Boavista ao 5º lugar do campeonato português. Já na temporada 1988/89, demitiu-se em dezembro, quase ao final do primeiro turno do campeonato, em função do desgaste pelos maus resultados: seis vitórias, cinco empates e seis derrotas em 17 jogos. No seu lugar assumiu por uma partida o interino Manuel Barbosa e depois Raul Águas, que levou a equipe ao terceiro lugar no final da temporada, com apenas duas derrotas em 20 jogos; Al-Ahli, do Qatar (2004 e 2005) – Pepe passou oito meses no país que sediará a Copa de 2022, período em que treinou o volante Pep Guardiola, já em fim de carreira, e que depois viria a se tornar o supertécnico de Barcelona, Bayern e Manchester City.


OS NÚMEROS DE PEPE

Pepe entrou em campo 750 vezes pelo time do Santos, marcando 405 gols, uma média de 0,54 gol por jogo. É o segundo maior artilheiro do Peixe, só perdendo para Pelé. Mas aí não conta…


Na seleção foram 40 jogos (41 se considerada a vitória por 1x0, em jogo não oficial, sobre o PSV Eindhoven, em maio de 1963, na gira que o escrete canarinho fez pela Europa, África e Oriente Médio) e 22 gols. Nesta mesma excursão, Pepe marcou seu último gol com a camisa canarinho, no empate por 1x1 com a Inglaterra, no Estádio de Wembley, e se despediu da seleção na vitória por 5x0 contra a seleção israelense, em Tel Aviv, em 19 de maio.


Pepe continua vivendo em Santos. Em 2006, lançou o livro “Bombas de alegria, meio século de histórias do Canhão da Vila”, e em 2015 saiu sua biografia “Pepe, o Canhão da Vila, de autoria de sua filha, Gisa Macia.



José PEPE Macia

25/02/1935, Santos, Brasil

Copas: 1958 e 1962 (Santos)

Primeiro e único clube: Santos

COPYRIGHT © 2018 LUI FAGUNDES (este texto é parte do capítulo “Super-Reservas” do livro O MUNDO DA COPA DO MUNDO, em produção).



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